30 de nov. de 2014

DIA 30 – DESERTO DO ATACAMA, CHILE

Acordamos no domingo cedo e nos preparamos para partir. A senhora nos ofereceu café da manhã com chá e pães com manteiga. Antes de irmos embora ela saiu e voltou com um saco de azeitonas pretas e uma garrafa de água mineral. Juntou aos lanches que havia preparados para nós para a viagem e nos entregou. Exatamente como uma avó faz. Agradecemos, nos despedimos e pegamos a reta.
Passamos o dia como nada ao nosso redor a não ser areia e pedras. Os ventos fortes e redemoinhos de areia eram assustadores. A cada 100 kms fazíamos uma parada rápida para esticarmos as pernas e dar um descanso pra moto. O dia se manteve o mesmo durante todos os 409 kms que percorremos. No entardecer resolvemos parar, pois a próxima cidade estava muito longe. Avistamos um estabelecimento abandonado. Parei a moto na lateral e fomos investigar. Aparentemente era uma pousada chamada La Bamba, toda feita de madeira com todas as portas e janelas bloqueadas, exceto duas portas laterais que davam para quartinhos que dentro tinham camas velhas enferrujadas e outros itens que davam à situação um ar de filme de terror. Porém, eu podia ver que dentro da pousada seria (aparentemente) seguro para passarmos a noite (e grátis). A única forma de entrar seria através de uma janelinha minúscula do quartinho exterior, que daria acesso ao interior da casa. Como a Mel rejeitou prontamente entrar sozinha, eu tive que respirar fundo, fazer o sinal da cruz e me espremer para passar pela janela. Quando entrei senti um calafrio e pude ver que Hollywood iria adorar fazer um filme ali. Tinham coisas que pareciam ser dos anos 70 e 80 e tudo com cinco dedos de poeira preta. Teias de aranha por todos os lados construídas pelas avós das aranhas que lá estavam. Da sala onde eu estava (que parecia ser uma garagem de tranqueiras) a única porta estava bloqueada com uma corrente grossa e toda enferrujada. Fiz como aprendi nos video-games, peguei uma pá e fui batendo até arrebentar a corrente da porta. Esta porta deu acesso a uma sala menor que tinham mais três portas. Uma que chutei até abrir, a segunda dava para o exterior onde Mel estava. Tirei a barra de ferro que a bloqueava e saí para trazer Mel. Ela fez uma cara como se estivéssemos na mansão da família Adams. Investigamos o resto da pousada, cozinha ainda com os utensílios, quartos com coisas antigas e a recepção com uma cruz feita de palha na parede. Tudo com cinco dedos de pó e uma colonização generalizada de aranhas grandes. Chegamos à conclusão que nenhum de nós dois iria conseguir dormir tranquilo naquele lugar.

Bem em frente à casa abandonada estava outra pousada, porém não abandonada e funcionando. Resolvi atravessar a pista e ir perguntar o preço. 15 mil pesos (60 reais) por um alojamento sem nada além da cama e sem aquecimento. O lugar também não tinha água quente. Fazer o que... Não tínhamos alternativa. Hospedamos-nos lá e gastamos mais 10 reais cada no jantar. Esse pelo menos valeu a pena. Tanto no Chile quanto no Peru existe a opção de refeição chamada menú, que consiste em um prato de entrada (que normalmente é sopa com batata cozida e pães) e outro prato com a refeição principal. Depois do jantar fomos para cama. A Mel capotou rápido enquanto eu fiquei assistindo um filme no notebook. Perto da meia noite fui ao banheiro e pude notar o céu forrado de estrelas. Fui pegar a câmera e pude registrar algumas fotos.












29 de nov. de 2014

DIA 29 – VALLENAR, CHILE

Acordei sentindo o chão tão gelado quanto uma pista de patinação no gelo. Tomamos um café, arrumamos as coisas, agradecemos e partimos. Paramos em La Serena na hora do almoço. A cidade era consideravelmente grande e muito bonita. O centro estava bem movimentado e com feiras de artesanatos por toda a parte. Estacionei a moto e fui dar uma volta enquanto Mel esperava com a moto. Comprei um chip para o celular e procurei o almoço. Quatro pastéis e um refrigerante. Voltei até Mel e a moto e comemos antes de ser a vez dela dar uma volta. Quando retornou voltamos a pegar a estrada.
A pista que sucedeu La Serena era péssima, de pista dupla e toda esburacada. No final da tarde chegamos na cidade de Vallenar sem sabermos onde iriamos dormir ainda. Começamos a percorrer a cidade e num certo momento Mel pediu para eu dar meia volta, pois havia visto um salão das testemunhas de Jeová. Há algum tempo atrás ela fazia parte desta religião e disse que eles tem o hábito de ajudar uns aos outros quando necessário. Resolvemos parar lá e nos passarmos por testemunhas de Jeová na esperança de alguém resolver nos acolher. Dito e feito! Enquanto todos aguardavam a chegada da pessoa com a chave dos portões, foram conversando conosco e perguntando a nosso respeito. Uma senhora bem idosa ofereceu nos hospedarmos na casa dela. Prontamente aceitamos, sabendo que também teríamos que participar da reunião que estava para começar. Ela perguntou a Mel se éramos casados, pois se não fossemos não poderíamos dormir juntos. Mel respondeu que sim e cochichou para eu trocar a aliança de mão. Ofereceram o espaço ao lado do salão para eu guardar a moto enquanto aconteceria a reunião. Quando entramos mais pessoas foram chegando, todas muito bem vestidas e cumprimentando uns aos outros. Eu e Mel ambos com as roupas... digamos... gastas pela viagem. Duas horas e pouco depois a reunião termina. Voltei a moto para espantar as quinze crianças que mexiam nela e preparar para partir para a casa da senhora. Ela se aproximou e disse que Mel iria com ela de carro e quem iria comigo na moto seria um rapaz, para mostrar o caminho. O problema é que o rapaz era três vezes maior e mais pesado que a Mel. A pobre moto quase chorou quando nós dois subimos nela e sinceramente não achei que fosse aguentar até chegar na casa.
Alguns minutos depois chegamos na casa da senhora e logo em seguida ela e a Mel chegaram de carro. Ela abriu o portão para colocarmos a moto e depois já entramos na casa. Era uma casa bem simples, feita de madeira e com muitas coisas antigas (como toda casa de vó). Ela nos ofereceu chá e pão e disse que poderíamos tomar banho (com água gelada, haja coragem). A cama que nos ofereceu era no mesmo quarto que o dela e segundo ela disse era a cama de um parente que morreu ou foi embora ou algo assim. Dormimos cedo, com uma tonelada de coberta sob nós em conta do frio!





28 de nov. de 2014

DIA 28 – RUTA PANAMERICANA

Pegamos a estrada às 9 da manhã. Com o problema do farol queimado tivemos que parar em Los Andes e procurarmos uma oficina para comprar a lâmpada. Quando encontramos aproveitei e comprei uma garrafa de óleo para a próxima troca. Na calçada mesmo desmontei o farol e troquei a lâmpada. Sendo feito, seguimos viagem até a ruta 5, a via Panamericana. Passamos por muitos e muitos aerogeradores. Avistamos o oceano Pacífico e todo o vento frio que ele nos saudava. Às 4 da tarde e depois de rodarmos 340 quilômetros ainda sem almoçar resolvemos encerrar o dia e procurar um lugar para dormir. Encontramos um restaurante de beira da estrada e imaginávamos que seria bom e barato. 14 reais por um prato de comida. Para economizarmos pedimos apenas um para comer os dois. Mais de meia hora depois o prato chega e com ele um desapontamento tremendo. Duas colheradinhas de arroz muito duro e seco, requentado no microondas, um pedaço de bisteca de carne e batata frita pingando óleo. O refrigerante foi tão decepcionante quanto. Parecia ki-suco com gás. Comemos, pagamos e saímos para procurar abrigo para a noite. Atrás do restaurante havia algumas poucas casas e fomos de uma a uma pedir abrigo. Em apenas uma delas havia gente. A mulher disse que poderíamos montar a barraca “logo ali”. O logo ali dela era duas casas depois da dela, numa rota de entrada e saída de carros. Mel resolveu apelar e pedir às moças do restaurante. Elas foram bem compreensíveis e nos deixaram ficar nos fundos do restaurante onde estavam finalizando a construção de uma cozinha nova. Ainda levaria 3 horas para anoitecer, então ficamos tirando fotos, admirando a paisagem, passando um pouco de frio e comendo bolacha velha que Mel havia comprado numa vendinha ali ao lado.
Ao anoitecer montamos a barraca, cozinhamos arroz e ovos e fomos dormir ainda com muito frio, pois o lugar ainda não tinha portas e janelas.







27 de nov. de 2014

DIA 27 – LOS ANDES, CHILE

Juan Pablo foi trabalhar logo cedo pela manhã, porém retornou para se despedir de nós antes de partirmos. Tomamos o café, arrumamos as coisas na moto e pegamos a estrada. A Argentina estava sofrendo com um problema grave de falta de gasolina. Fomos a todos os postos no caminho e nada de gasolina até quase sairmos do país. A rota que levava ao Chile era muito bonita, passando pela Reserva do Aconcágua, subindo e descendo montanhas e fazendo costa com o rio Mendoza. Fizemos poucas paradas, para esticar as pernas e tirarmos fotos. Na entrada da Reserva fomos parados pelo bloqueio do exercito para só então descobrirmos que o farol da moto estava queimado. Liguei os faróis auxiliares e ele nos deixou seguir viagem sem problemas. O frio intensificava a cada quilômetro e aguentamos firme até 3 mil metros na cordilheira dos Andes. Paramos e colocamos mais roupas para suportar o vento gelado.
Mel estava muito empolgada em ver neve, mesmo de longe. Seus olhos brilhavam de animação. Eu só torcia para não nos aproximarmos dela, pois pilotar na pista escorregadia com a moto tão pesada não seria nada legal. Atravessamos um total de 17 túneis na Argentina naquele dia até chegarmos ao tão esperado túnel do Cristo Redentor, que faz divisa entre Chile e Argentina. Passamos pelo pedágio, ligamos a câmera e atravessamos o túnel.
No lado chileno avistamos as montanhas cobertas de neve dos Andes ainda mais perto. Chegamos então na aduana para os tramites burocráticos. O processo foi longo e demorado. Passamos pelo guichê da imigração argentina, a chilena, preenchemos três formulários e passei por mais três guichês para só então os fiscais poderem averiguar a moto. Cães farejadores a cheiraram inteira e para nossa sorte não tivemos que descarregá-la e abrir tudo para o fiscal chileno. Seguimos viagem para então encontramos os famosos Caracóles. Vinte e tantas curvas fazendo zigue-zague descendo a montanha. A descida era tão íngreme de desliguei a moto até atingir a última curva.
Algum tempo depois chegamos à cidade de Los Andes. Não tínhamos 1 centavo então precisávamos encontrar um caixa eletrônico. Encontrei um posto de gasolina com um caixa eletrônico do Santander e lá pude sacar dinheiro. Ao lado havia um supermercado, então fomos até lá para comprarmos arroz e pão para garantir nosso jantar. Mel ficou, como sempre, cuidando da moto enquanto eu entrava. Enquanto procurava o arroz escutei dois homens conversando em português e resolvi apelar. Fui até eles e perguntei se conheciam um lugar onde seria possível acampar. Eles responderam que na cidade não havia e também disseram que lá era um pouco perigoso. Após contar nossa situação eles nos ofereceram abrigo. Eram ambos motoristas caminhoneiros e estavam numa área de paragem de caminhões 10kms fora da cidade. Disseram que poderíamos passar a noite lá e que tinham TV, cozinha, banheiro e guardas. Aceitei prontamente e quando saímos do supermercado os seguimos até o lugar.
A paragem era gigantesca, com dezenas de caminhões e muitos motoristas, alguns inclusive com a esposa e filhos juntos. A maioria era de brasileiros. Fomos convidados por três deles para nos sentarmos e tomarmos uma cerveja. Contaram-nos da vida de motorista de caminhão pela América do Sul e mostraram conhecer todas as estradas do continente. Eram verdadeiros mapas vivos. Um deles antes de ir embora nos deu 10 mil pesos (cerca de 50 reais) como colaboração para nossa expedição. Um gesto nobre totalmente inesperado. Tiramos fotos juntos e fomos até a sala onde o motorista que nos ofereceu abrigo, Carlos, preparou o jantar e nos convidou para comermos. Nos esbaldamos com macarrão, arroz, feijão e carne. Depois passamos algum tempo caminhando pela área de estacionamento dos caminhões. Os motoristas todos dormiam dentro de seus caminhões, por isso Carlos disse que poderíamos dormir dentro da sala de TV. Abrimos nossos sacos de dormir e “capotamos”.









26 de nov. de 2014

DIA 26 - SAN MARTIN, ARGENTINA (SEGUNDO DIA)

Juan Pablo saiu cedo pela manhã para buscar Daniela no trabalho e voltou perto da hora do almoço. Enquanto não chegavam ficamos assistindo um filme no computador. Quando chegaram comemos um lanche e ficamos conversando durante algum tempo. Nos ensinavam algumas palavras em espanhol enquanto nós os ensinávamos português.
Perto das duas da tarde fomos todos levar a moto ao tio de Juan Pablo. Eles no carro e eu os seguindo, tentando manter a alta velocidade para não os perder. Acho que nunca antes eu havia rodado com 90kms\h na cidade. Deixamos a moto e fomos de carro para o campo. Pararam em uma área pública para pic-nic com grelhas para churrasco. Juan Pablo já foi acendendo o fogo enquanto eu e Mel procurávamos desesperadamente um banheiro para ela. Passamos a tarde comendo e conversando. Depois nos levaram até um açude a 35 kms da cidade, em Luján. O lugar era muito belo e valeu ótimas fotos.
Voltamos no final da tarde até a casa do tio buscar a moto. Ele colocou um apoio para pé que tinha de reserva e limpou e ajustou o carburador, trocando o glice por um menor para suportar as condições novas.
Chegamos ao apartamento pela noite. Tomamos banho e fomos todos dormir.










25 de nov. de 2014

DIA 25 – SAN MARTIN, ARGENTINA (PRIMEIRO DIA)

Acordamos às sete horas com muito frio e já começamos a organizar tudo para partir. Troquei o óleo da moto, lubrifiquei a corrente e a limpei toda (na medida do possível) para deixá-la mais apresentável. Ninguém apareceu para nos despedirmos, infelizmente. Pegamos a reta e paramos apenas para abastecer e esticar as pernas algumas vezes. O destino do dia era San Martin, cidade vizinha a Mendoza. O casal Juan Pablo e Daniela iria nos hospedar, conforme haviam combinado com Mel no camping. Chegamos às treze horas em frente a casa deles, no centro da cidade. Só então notamos que o apoio de pé direito da Mel havia caído na estrada. Este apoio era também ligado ao escapamento e a falta dele colocaria em risco a fixação.
Juan Pablo e Daniela viviam em um prédio de dez apartamentos. Fui até o telefone público e liguei para Juan Pablo, que nos pediu para esperar por 2 horas até ele poder vir para casa. Sendo assim fomos procurar um lugar para comer pois já estávamos com muita fome. Rodamos a cidade e não encontramos nenhum lugar barato. Paramos então ao lado de um supermercado para procurarmos algo. Quando fui descer da moto algo deu errado e a moto caiu em cima da minha pobre perna machucada, com a Mel ainda na garupa. A levantamos e fui para o supermercado. Voltei com pão e refrigerante e comemos lá mesmo na calçada.
Às três da tarde voltamos ao prédio do casal e algum tempo depois chegaram. Receberam-nos muito bem, oferecendo colocarmos a moto dentro do prédio. Deram-nos um caprichado lanche enquanto conversávamos, todos em portunhol. Organizamos nossas coisas e enchemos o colchão de ar que Juan Pablo providenciou. Pouco mais tarde fomos todos no carro dele levar Daniela para o trabalho. Ela trabalhava no hospital da cidade durante a noite. Após, Juan Pablo nos levou para conhecer a cidade vizinha, Rivadavia para a casa de seu tio mecânico. O tio estava na calçada trabalhando em uma moto. Juan Pablo nos apresentou e pediu ajuda para substituir o apoio de pé que havia caído na estrada. Falamos também sobre o alto consumo da moto e ele nos pediu que a trouxéssemos no dia seguinte para ele poder averiguar. Antes de partirmos ele nos presenteou com dois vidros de conserva (um de berinjela, outro de tomate) e um de doce de damasco.
Voltamos à cidade de San Martin, deixamos o carro no apartamento e fomos andar pelo centro da cidade. Conhecemos a prefeitura, que ficava num prédio histórico ao lado de uma praça central onde estava sendo exibido um filme e muitas pessoas lá estavam. Mais tarde jantamos em uma lanchonete que servia lanches enormes, muito bons e baratos.
Chegamos todos cansados e fomos dormir.












24 de nov. de 2014

DIA 24 - EL VOLCAN, ARGENTINA (QUARTO DIA)

No nosso último dia empacados em El Volcan acordamos tarde, às 11 da manhã. O camping estava vazio, todos haviam ido conhecer o rio que atravessa as montanhas da região. Perguntamos a Jorge se o lugar valia a pena conhecer e se era possível nadar, ele respondeu que sim e disse que era bem fundo. Também disse que ficava a apenas 400 metros do camping, seguindo a ruta perto de lá. Sendo assim, nos preparamos e fomos a pé.  Mil e quinhentos metros depois avistamos o centro turístico, pois não tínhamos visto nem sinal do rio. O rapaz no centro turístico nos entregou panfletos com mapas e passou cinco minutos explicando tudo numa velocidade que tornava quase impossível o entender. Também nos deu um adesivo, que colei na moto. Seguindo as direções do mapa encontramos o bendito rio. Havia muitas famílias fazendo churrasco e com o som do carro ligado e de fato havia pessoas nadando lá. Pessoas todas com menos de doze anos de idade e com a água não passando de seus joelhos. Após a decepção voltamos para o camping. A recompensa veio no caminho de volta, avistamos pela rua perto do camping árvores frutíferas com damasco, amoras e cereja. Apanhamos mais de dois quilos de tudo e voltamos garantindo o café da tarde.
No almoço Jorge nos convidou para comer pão com presunto e queijo. Aceitamos, afinal ainda não tínhamos dinheiro. Após comermos peguei a moto e fui até a rua perto onde havia wi-fi aberto. Verifiquei que havíamos recebido 400 reais com as doações dos amigos do Facebook (graças a Deus) e com isso fui até o Wal Mart da cidade na esperança de conseguir sacar a grana de algum caixa eletrônico, enquanto Mel ficou dormindo na barraca. Quinze quilômetros depois encontrei o Wal-Mart e com um sorriso imenso saquei o dinheiro num caixa eletronico do City Bank. Aproveitei e já comprei óleo para a moto, álcool para nossa espiriteira (muito caro) e sopinhas para os próximos dias. No caminho de volta notei que o GPS estava mostrando o caminho mais longo para evitar a estrada de rípio. Ignorando suas direções fiz meu próprio caminho pelo que sabia das redondezas. Numa curva acentuada, já no vilarejo, a moto escorregou e levei um belo de um tombo. Havia areia na pista e eu nem notei. Com o tombo o alforge direito amassou, a gasolina vazou do tanque e eu ralei a mão e o joelho esquerdo, pois foi ele que freou o tombo. O asfalto levou um pedaço de minha calça e do meu joelho. Prontamente surgiram pessoas que há um segundo não estavam lá, e começaram a me ajudar. Levantaram a moto, desamassaram o alforge, a levaram para uma garagem ao lado e me levaram para lá também. Limparam meu machucado e ofereceram me levar ao hospital. Eu disse que não havia necessidade pois tinha um kit de primeiros socorros no camping. Antes de subir na moto e partir todos quiseram tirar fotos comigo e pediram meu Facebook.

Quando voltei ao camping Mel assustada com o resultado do tombo me ajudou e fez um curativo em mim. Tomei banho e recebemos um convite de Jorge para comer pizza. Disse que faria várias. Falei para ele que adorava pizza, mas não comia queijo e ele disse que tudo bem. Fui criando mentalmente várias imagens de pizza regada à calabresa, presunto, atum, ovos e tudo mais (exceto queijo). Como o frio era intenso ele e sua esposa nos convidaram para entrarmos em sua casa e comermos lá. Esperamos por pouco mais de uma hora enquanto prepararam sete pizzas para sete pessoas, Todas com muito queijo. Fiquei na mesa olhando com fome e tristeza enquanto todos se deliciavam com as pizzas. Fomos dormir, eu um pouco triste pelo ocorrido, mas prontos para seguir viagem no dia seguinte.





23 de nov. de 2014

DIA 23 – EL VOLCAN, ARGENTINA (TERCEIRO DIA)

Jorge nos fez a oferta de ficarmos lá até termos o dinheiro. Iria nos ajudar comprando a comida que precisássemos para depois o pagarmos de volta. Aceitamos, sabendo que nossa rota já estava com atraso. Acordamos tarde, de tão exaustos que andamos. Almoçamos e fomos dar uma volta perto de um rio que há nas montanhas de El Volcan. Na volta avistamos algumas árvores frutíferas com Ciruela (uma fruta similar ao pêssego), amora e cereja. Enchemos nossa bolsa com mais de 1kg de frutas para garantir o lanche da tarde e voltamos ao camping. Quando contei a Jorge ele nos mostrou árvores no próprio camping com amoras vermelhas e brancas.
Nas montanhas de San Luis faz muito calor durante o dia e a noite faz muito frio. É um clima parecido com o de deserto. Se não fosse pelos cobertores que a esposa de Jorge nos emprestou estaríamos em mal-lençóis (literalmente).
Enquanto escrevíamos para atualizar o blog uma criança e um adulto do grupo de dança jogavam futebol. Quando a bola do menino veio parar perto de nós Mel levantou para devolver a bola mas não antes de fazer uma embaixadinha e dar um chapéu no pobre menino. Na segunda vez que a bola veio parar do nosso lado Mel levantou e deu uma tremenda bica na bola, que foi parar na cara do menino. Ele com certeza segurou o choro de vergonha. Se preparou para chutar a bola de volta na Mel para revidar mas acabou dando um belo de um chute torto.
Perto das seis da tarde o casal de San Martin se preparavapara partirem. Mel se aproximou deles e pediu se poderíam nos oferecer pouso na cidade, já que estávamos com a grana curta. Eles prontamente aceitaram e me deram a direção da casa.


22 de nov. de 2014

DIA 22 – EL VOLCAN, ARGENTINA (SEGUNDO DIA)

Acordamos ainda sem saber bem o que fazer. Tinhamos apenas 206 pesos e ainda tínhamos que pagar o camping. De combustível tinhamos o tanque da moto praticamente cheio mais um galão cheio. Daria para cerca de 220 quilometros. Não seria suficiente para chegar a Mendoza e mesmo se chegássemos não teriamos lugar para ficar. Conversamos e resolvemos ficar até termos dinheiro para continuar a viagem. Resolvi apelar ao Facebook e pedir publicamente por ajuda. Meu irmão iria depositar 200 e meu dinheiro de seguro-desemprego só viria no dia 26. Peguei a moto e fui até o ponto da cidade onde tinha sinal de wi-fi aberto. Fiz a postagem e chequei se havia alguma mensagem de couchsurfing dos pedidos de hospedagem que fiz. Todas as respostas foram negativas do couchsurfing.
Voltando ao camping paguei os 70 do camping, juntamos o restante e fomos ao comércio da cidade comprar algo para prepararmos. Gastamos 23 pesos comprando um saco de 1kg de arroz e 6 ovos. Os preparamos no almoço e passamos o resto do dia pensando no que fazer com nossa situação econômica. Eu fiquei checando a situação da moto (lavando filtro de ar, etc) enquanto Mel jogava bola com os filhos de Jorge.

Pela noite chegaram muitas pessoas. Um ônibus com um grupo de dança e dois carros com dois casais para acamparem. O grupo de dança havia vindo de longe para participar de um concurso de dança. O primeiro casal era de um produtor de vinho de Mendoza e o segundo casal era de San Martin. Fizemos nosso jantar (arroz com pão e salsichas) e quando estávamos nos preparando para ir dormir o casal de San Martin nos convidou para comermos com eles. Estavam preparando um churrasco de costela e coração com salame, queijo e pão. Claro que não perdemos a oportunidade de comermos algo diferente de arroz e ovo. Conversamos bastante com eles na medida do possível e do entendimento. Ele se chama Juan Pablo e é policial, ela se chama Daniela. Contaram-nos que se conheceram pela internet através do Badoo. Depois do banquete fomos para nossa barraca descansar. Pedi a Mel um remédio para dor muscular e ela o separou junto com seu anti-concepcional que iria tomar. Durante a distração peguei qualquer um e tomei. Mel me disse que eu havia tomado sua pílula. Eu fiquei branco e paralisado por alguns minutos até ela dizer que era brincadeira. Ficou rindo por mais 20 minutos. Que maldade...