5 de dez. de 2014

DIA 35 – RUTA 36, PERU

Na manhã do dia 5 de Dezembro nos preparamos para cruzar a fronteira Chile/Peru. Organizamos a moto e pouco antes de partirmos Mincho chegou a tempo de nos despedirmos. Pegamos a estrada as 9 da manhã e em pouco tempo chegamos na fronteira. A burocracia, como sempre, foi intensa e chata. Tivemos que pagar por um formulário, coisa que nunca vi em fronteira nenhuma. Ainda bem que tínhamos umas ultimas moedas de dinheiro chileno. Na hora dos transmites do lado peruano mais burocracia e uma surpresa desagradável: deram-nos apenas um mês de visto. No dia 4 de Janeiro teríamos que sair. Se ficássemos além disso iriamos pagar multa e a moto poderia ser apreendida. Planejamos permanecer um bom tempo em Pisac, trabalhando em conjunto com um amigo numa ONG lá. A expedição Arauto Americano deveria ser uma viagem só de ida, afinal deixamos nossos empregos, entregamos o apartamento e vendemos todas nossas coisas. Tudo que tínhamos estava na moto. O visto seria uma dor de cabeça que deixei pra pensar depois, já em Pisac. Passamos pela vistoria que mais uma vez não fez questão de mandar eu abrir nada e em meia hora estávamos já no lado peruano. Nosso primeiro destino seria Tacna, onde deveríamos sacar dinheiro e fazer o tal seguro SOAT. No Chile não fizemos o seguro e para nossa sorte nunca fomos parados e o seguro nunca foi solicitado. Mas nos informaram que no Peru a coisa era mais séria e não deveríamos arriscar.
A cidade era um caos tremendo, o maior desde o início da viagem. O trânsito era um pouco pior que o de Moçambique. Carros cruzando avenida sem ninguém dar a vez, numa verdadeira batalha onde parecia que sempre iria sair batida. E pra piorar o GPS não estava mostrando as ruas desde que entramos no Peru. Obviamente o mapa do Peru não foi instalado corretamente no Garmin Zumo. Maldito site de mapas, dizia que o mapa era para toda a América Latina. Instalei e verifiquei várias vezes antes de começar a viagem mas parece que a verificação do Peru passou batida por mim (sim, é culpa minha). Além disso as cidades e estradas do Peru não tem uma placa sequer indicando os caminhos. Seguindo indicações de pessoas na rua, chegamos ao centro da cidade. Consegui sacar o dinheiro, trocar os 15 dólares que tínhamos guardados e fazer o seguro SOAT em um escritório depois de bastante enrolação e da atendente terminar de debater política com os colegas. Mel sempre esperando pacientemente na moto, debaixo de sol. E eu sempre preocupado pela segurança das duas, tentando fazer tudo correndo para voltar logo. Terminado estes detalhes mais uma vez pedimos informações de como tomar a ruta 36 rumo à Juliaca. Só achamos a ruta após perdermos cerca de uma hora rodando pelas ruas sem placas sempre pensando que não queria voltar a rodar em grandes cidades peruanas. Quando entramos na ruta paramos num posto, abastecemos, enchemos os galões e continuamos a jornada. Subimos extensas montanhas, passamos pela fronteira provincial e por vários povoados nas montanhas, sempre de olhos abertos para encontrarmos um lugar para passar a noite. Ja no final da tarde, quando eram cerca de 17 horas percebi que a próxima cidade estava a 250 quilômetros de distância. Eu não estava disposto a chegar as 20 horas e ainda ter que procurar lugar para nós. Além de tudo, começou uma tremenda chuva fria. No topo de uma montanha avistamos um pedágio e ao lado, na beira da estrada, algumas casinhas simples. Resolvi confiar no nosso santo, parei a moto ali mesmo. Uma família estava à porta nos observando. Aproximei-me e perguntei se podíamos montar nossa barraca ao lado da casa para passarmos a noite. Aceitaram e nos convidaram para entrar e esperar até a chuva passar. A casa só tinha um cômodo com duas camas e um sofá, além de uma mesa com uma TV e DVD e várias caixas no chão com bolachas e ovos. O lugar tinha bastante sujeira e um cheiro nada bom de lixo. Mas nunca deixamos isso estar acima dos nossos agradecimentos àquela família. Vejam vocês: a família era composta por um casal, a filhinha, o bebê e a vovó e mesmo com toda aquela simplicidade e condições precárias, nos disseram que poderíamos dormir dentro por causa do frio. O pai com o bebê pegou carona em um caminhão para irem até a cidade anterior. A mãe, a filha e a avó ficaram e nos cederam uma das duas camas. Colocaram muitas cobertas e nos fizeram sentir muito bem. Assistimos todos no DVD o filme inteiro da Máscara do Zorro dublado em espanhol. A pobre moto ficou lá fora na chuva e frio de zero grau. Quando o filme terminou, eu e a Mel acendemos nossa espiriteira e fizemos sopa com ovos cozidos que compramos da dona da casa. Compramos também algumas bolachinhas para a viagem e o café da manhã. O jantar não foi muito promissor, pois a sopa era bem ruinzinha e rala. Fui dormir com fome. Mel também. Depois do jantar mais uma vez colocaram o DVD do Zorro, mas dessa vez do seriado antigo. Quando todos foram dormir ainda estava passando o seriado. O frio era tanto que dormi cheio de roupas e com touca. Num certo momento da noite acordei com uma música repetindo dentro do meu sonho como uma trilha sonora. Abri os olhos e notei a luz acesa, o DVD do Zorro no menu inicial com a música repetindo terminantemente e Mel, a avó, a mãe e a filha todas roncando. Levantei e desliguei a TV, não achei o interruptor da luz por isso peguei minha toca e com ela desrosquei a lâmpada do bocal. Voltei pra cama e dormi tentando adivinhar quantos graus estava. Certamente abaixo de zero.
Boa noite com frio!!!


RODADOS NO DIA: 264 KMS
TOTAL RODADOS:  7105 KMS








4 comentários:

  1. Tenho acompanhado seus relatos. Parabéns pela expedição. Feliz natal para vocês. Que tenham muita paz e coragem para seguir em frente. Grande abraço. Rogério.

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  2. Muito obrigado irmão Rogério! Este tipo de apoio é muito importante para nós! Feliz Natal pra vc também!!

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  3. Amigos... quanto perrengue! Mas no final tudo parece estar dando certo. Me disseram no Chile uma vez que é bom dar uma buzinadinha para as cruzes e igrejinhas da estrada, como forma de pedir proteção. Faço isso até hoje... Feliz Natal!

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  4. o que aconteceu depois deste dia? não postaram mais nada

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