Naquela manhã eu
ainda sentia os efeitos da altitude rondando pelo meu corpo (especialmente
minha cabeça) como uma ressaca de quem tomou um porre de gasolina com diesel e
limão. O resto do pão do dia anterior estava duro como a parede e nosso abastecimento
de barrinhas de cereal tinha se esgotado no Chile, então comemos algumas
bolachinhas que compramos no dia anterior e começamos a arrumar nossas coisas
para partir.
Carregando
todas as nossas coisas fomos até a garagem vizinha à pousada, onde a senhora
abriu o portão. Após respirar aliviado por ainda encontrar a moto lá (e
inteira) iniciamos a organização e em pouco tempo pegamos a estrada. A estrada
de Juliaca a Cusco é especialmente linda, com paisagens exuberantes.
Lhamas e alpacas a todo tempo atravessando a estrada, colinas e montanhas
verdes e muito floridas, uma estrada impecavelmente lisa e para completar uma
beleza de clima com céu azul como sorvete barato, com poucas nuvens e um belo
sol pra diminuir o frio.
A viagem se
estendeu assim por cerca de 2 horas mas logo tudo começou a mudar. Nuvens
negras surgiram vindas do oeste, o frio aumentou muito, a paisagem deu lugar a
vilarejos não muito belos e em pouco tempo começou uma tempestade. A chuva era
tanta que lugares da moto que nunca viu água naquele dia descobriu o que é
chuva. E tão certo quanto a chuva, iniciou a tempestade de granizos tão grandes
que eu poderia rebate-los com um taco de baseball. No mesmo momento que a
visibilidade se tornou praticamente nula encostei a moto, joguei a mala de
tanque debaixo de um caminhão estacionado à nossa frente e nos abrigamos
embaixo de um toldo de 2 metros quadrados.
Quando
a chuva passou, retomamos a viagem. O cuidado deveria ser redobrado por causa
da pista molhada. Mais à frente tivemos que parar novamente por causa da chuva
de granizo que havia recomeçado. Nos abrigamos em um posto de gasolina e
levamos muito mais tempo para voltar pra estrada. A chuva não parava e
decidimos seguir assim mesmo.
Mais
adiante, começamos a novamente contornar montanhas até alcançarmos um rio chamado
Rio Urubamba sempre ansiando por chegar em Pisac, onde permaneceríamos por
cerca de 2 meses hospedados por um amigo americano. O combinado era
trabalharmos junto a ele em sua ONG que tem como objetivo resgatar e preservar
a cultura indígena da região com ações de ajuda humanitária e a futura
construção de uma escola (da qual faríamos parte). Quando estávamos parados no
posto de gasolina eu recebi uma mensagem dele pelo Facebook (vamos chama-lo de Richard
para preservá-lo) dizendo que estaria nos esperando no Ulrike’s Café em Pisac.
Quando finalmente alcançamos a cidadezinha de Pisac a chuva ainda era intensa e
o dia já estava se pondo. A cidade estava um pouco caótica por causa de algum
tipo de manifestação e a rua principal estava tomada pela polícia. A cidade era
muito preservada com a arquitetura inca, então as vias não tinham calçada mas
somente ruas. Então os pedestres tinham que transitar no mesmo espaço que os
veículos, o que não era exatamente um problema já que os motoristas trafegavam
com cuidado e devagar. Eu julguei melhor parar a moto e deixar a Mel cuidando,
enquanto corria até o Ulrike’s. Pedindo direção às pessoas na rua finalmente
encontrei o Café. Dentro estavam muitos cliente mas notei que 100% deles eram
estrangeiros.
Procurei
Richard dentro do Ulrike’s mas não o encontrei. Vi o flyer de sua ONG anexada
no mural de avisos então resolvi perguntar ao caixa se o conhecia. Este me
respondeu que Richard havia saído há pouco menos de 1 hora. Perguntei se sabia
onde ele morava mas me respondeu que não e nem tinha o telefone dele. Olhei
novamente no flyer mas também não havia endereço ou telefone, apenas website e
e-mail. Chamei-o pelo Facebook mas nada de resposta. Sabendo que já eram 5 da
tarde e dificilmente o localizaríamos ainda naquele dia, resolvi voltar à Mel e
a moto para pensarmos em outra solução. Decidimos procurar um hostel para no
dia seguinte tentarmos localizar Richard novamente. Pisac Ayllu Hospedaje foi o nome do hostel que encontramos que
se encaixasse no nosso orçamento. Estava sem nenhum hospede mas tinha um
infro-estrutura razoável com quarto duplo, ducha quente (ufa!) e café da manhã.
Descansamos lá sem coragem de passear a noite, tamanho cansaço e chuva.
RODADOS NO DIA: 489 KMS
TOTAL RODADOS: 8009 KMS
RODADOS NO DIA: 489 KMS
TOTAL RODADOS: 8009 KMS
Nenhum comentário:
Postar um comentário