7 de dez. de 2014

DIA 37 - PISAC - PERU

   Naquela manhã eu ainda sentia os efeitos da altitude rondando pelo meu corpo (especialmente minha cabeça) como uma ressaca de quem tomou um porre de gasolina com diesel e limão. O resto do pão do dia anterior estava duro como a parede e nosso abastecimento de barrinhas de cereal tinha se esgotado no Chile, então comemos algumas bolachinhas que compramos no dia anterior e começamos a arrumar nossas coisas para partir.
   Carregando todas as nossas coisas fomos até a garagem vizinha à pousada, onde a senhora abriu o portão. Após respirar aliviado por ainda encontrar a moto lá (e inteira) iniciamos a organização e em pouco tempo pegamos a estrada. A estrada de Juliaca a Cusco é especialmente linda, com paisagens exuberantes. Lhamas e alpacas a todo tempo atravessando a estrada, colinas e montanhas verdes e muito floridas, uma estrada impecavelmente lisa e para completar uma beleza de clima com céu azul como sorvete barato, com poucas nuvens e um belo sol pra diminuir o frio.
   A viagem se estendeu assim por cerca de 2 horas mas logo tudo começou a mudar. Nuvens negras surgiram vindas do oeste, o frio aumentou muito, a paisagem deu lugar a vilarejos não muito belos e em pouco tempo começou uma tempestade. A chuva era tanta que lugares da moto que nunca viu água naquele dia descobriu o que é chuva. E tão certo quanto a chuva, iniciou a tempestade de granizos tão grandes que eu poderia rebate-los com um taco de baseball. No mesmo momento que a visibilidade se tornou praticamente nula encostei a moto, joguei a mala de tanque debaixo de um caminhão estacionado à nossa frente e nos abrigamos embaixo de um toldo de 2 metros quadrados.
   Quando a chuva passou, retomamos a viagem. O cuidado deveria ser redobrado por causa da pista molhada. Mais à frente tivemos que parar novamente por causa da chuva de granizo que havia recomeçado. Nos abrigamos em um posto de gasolina e levamos muito mais tempo para voltar pra estrada. A chuva não parava e decidimos seguir assim mesmo.
   Mais adiante, começamos a novamente contornar montanhas até alcançarmos um rio chamado Rio Urubamba sempre ansiando por chegar em Pisac, onde permaneceríamos por cerca de 2 meses hospedados por um amigo americano. O combinado era trabalharmos junto a ele em sua ONG que tem como objetivo resgatar e preservar a cultura indígena da região com ações de ajuda humanitária e a futura construção de uma escola (da qual faríamos parte). Quando estávamos parados no posto de gasolina eu recebi uma mensagem dele pelo Facebook (vamos chama-lo de Richard para preservá-lo) dizendo que estaria nos esperando no Ulrike’s Café em Pisac. Quando finalmente alcançamos a cidadezinha de Pisac a chuva ainda era intensa e o dia já estava se pondo. A cidade estava um pouco caótica por causa de algum tipo de manifestação e a rua principal estava tomada pela polícia. A cidade era muito preservada com a arquitetura inca, então as vias não tinham calçada mas somente ruas. Então os pedestres tinham que transitar no mesmo espaço que os veículos, o que não era exatamente um problema já que os motoristas trafegavam com cuidado e devagar. Eu julguei melhor parar a moto e deixar a Mel cuidando, enquanto corria até o Ulrike’s. Pedindo direção às pessoas na rua finalmente encontrei o Café. Dentro estavam muitos cliente mas notei que 100% deles eram estrangeiros.
   Procurei Richard dentro do Ulrike’s mas não o encontrei. Vi o flyer de sua ONG anexada no mural de avisos então resolvi perguntar ao caixa se o conhecia. Este me respondeu que Richard havia saído há pouco menos de 1 hora. Perguntei se sabia onde ele morava mas me respondeu que não e nem tinha o telefone dele. Olhei novamente no flyer mas também não havia endereço ou telefone, apenas website e e-mail. Chamei-o pelo Facebook mas nada de resposta. Sabendo que já eram 5 da tarde e dificilmente o localizaríamos ainda naquele dia, resolvi voltar à Mel e a moto para pensarmos em outra solução. Decidimos procurar um hostel para no dia seguinte tentarmos localizar Richard novamente. Pisac Ayllu Hospedaje foi o nome do hostel que encontramos que se encaixasse no nosso orçamento. Estava sem nenhum hospede mas tinha um infro-estrutura razoável com quarto duplo, ducha quente (ufa!) e café da manhã. Descansamos lá sem coragem de passear a noite, tamanho cansaço e chuva.

RODADOS NO DIA: 489 KMS
TOTAL RODADOS:  8009 KMS








Nenhum comentário:

Postar um comentário